Aquecimento? Vale a pena fazer bem
Mauro Lanzoni - ENDU Channel

A primeira parte do treino na água é dedicada ao aquecimento, que é frequentemente visto como um simples andar para trás e para a frente na piscina. Mas e se, em vez disso, aprendêssemos a tirar o máximo partido deste tempo?

Muitas vezes, o aquecimento é proposto e interpretado como um simples vai-e-vem de um lado para o outro da piscina, um recipiente que permanece desprovido de conteúdo. Acontece assim que flutuamos durante vários metros sem pormenores técnicos a que prestar atenção, sem mudanças de intensidade ou de estilo, sem uma cabeça pensante no comando. Assim, os metros passam e o tempo passa, mas sem qualquer investimento útil, e quando se enfrenta a série central do treino, apercebemo-nos de que estamos sem fôlego e que o nosso corpo responde com atraso.

Ativação física (e mental)

O aquecimento deve ser entendido como uma preparação a nível muscular, em que as fibras são colocadas à temperatura (ou seja, aquecidas) para evitar que se danifiquem quando for necessária uma intensidade mais elevada. A frequência cardíaca aumenta e a frequência respiratória também. Os "motores" são então aquecidos para aumentar a eficácia do gesto técnico e o desempenho.

No entanto, para além do aspeto físico, a esfera mental é, ou pelo menos deveria ser, de grande importância. Porque aquecer os motores sem um condutor preparado não vai muito longe...
O aquecimento deve ser interpretado como uma ativação da atenção, uma chamada de atenção para o que se está a fazer: se a mente estiver ativa, o investimento de tempo está assegurado e o resultado será decididamente mais compensador.

A parte "seca

Um bom hábito poderia ser estabelecer uma curta rotina de aquecimento em seco (ou seja, fora da piscina) com movimentos específicos para uma ativação psicofísica adequada.
Pode centrar-se na articulação do ombro, que é a mais sujeita a stress na natação, sendo uma articulação mais móvel do que estável e que, por isso, necessita de uma atenção especial. Especificamente:

  • pode fazer exercícios de reforço e de prevenção da coifa dos rotadores (conjunto de 4 músculos que têm uma função estabilizadora da articulação do ombro) utilizando uma banda elástica, ou um haltere ligeiro, ou em isometria  
  • pode efetuar exercícios para melhorar a mobilidade do ombro 
  • pode fazer mini-séries de pranchas (estáticas e/ou dinâmicas) para ativar e fortalecer o core
  • pode efetuar alguns segundos de saltos (para os mais experientes, até burpees) para aumentar o ritmo cardíaco
  • pode melhorar a mobilidade da anca e desenvolver uma melhor estabilidade geral do equilíbrio

Tudo isto deve fazer parte da lógica de um aquecimento curto (20'-30'), ou seja, uma ativação que tenha um objetivo, e não simples movimentos oscilantes ou círculos, que correm o risco de ser a principal causa de danos e lesões devido à forma como são realizados.

Aquecimento na água

Depois de ter efectuado a rotina em seco, pode entrar na água. Tendo em conta que o treino nunca deve ser improvisado no local, podemos pensar em dividir o bloco de aquecimento em várias etapas e concentrarmo-nos nos pontos fracos. Podemos introduzir variações de ritmo, a utilização de diferentes estilos e a utilização de equipamentos que provoquem uma mudança de hábitos.

A elaboração de uma pequena lista de focos pode, portanto, ajudar. Por exemplo: se quer concentrar-se na posição da cabeça, numa fase da braçada, no movimento das pernas, na respiração, nos pormenores da viragem, etc. Cada um tem os seus pequenos pontos fracos a desenvolver (de preferência com o apoio de um treinador): pode concentrar-se num ou dois pontos desta lista e finalizá-los durante o aquecimento.

Tomando como exemplo uma distância de 500 m, em vez de a nadar toda em estilo livre ao mesmo ritmo, poderíamos explorá-la da seguinte forma

500 m com barbatanas, fazendo 75 m estilo e 25 nado de costas (talvez os 75 estilo ritmo fácil e os 25 nado de costas sustentado); 
500 m com snorkel, dos quais: 200 m com foco na frequência respiratória e 300 m fazendo 25 m só de pernas e 25 de nado;
500 m sem aparelho divididos em: 200 m centrados na rapidez das viragens (não necessariamente apenas no estilo livre) e 300 m no estilo livre, fazendo 50 m com calma e respirando do mesmo lado da piscina e 25 m em hipoxia com uma frequência moderada

Ativação cardíaca

Antes do trabalho de natação propriamente dito, é também muito útil realizar algum trabalho de ativação, que pode ser genérico ou específico, ligado depois à série principal. 

Um pré-set genérico pode incidir no desenvolvimento da velocidade curta (por exemplo, 8×25 com 10-15 m máximos, terminando depois solto em 25. Pausa larga), no desenvolvimento da capacidade respiratória (12×50 com mudança da frequência respiratória a cada 50: 3/5/3/7 ou semelhante), nas progressões internas (8×25 em progressão interna a cada 25) ou externas (12×50 em progressão externa do 1º ao 3º), nos exercícios de técnica, nos fundamentos (arranque, viragem, finalização, mergulho), etc. A utilização do material está ligada ao objetivo do trabalho e à imaginação. Em suma, o aquecimento é o berço de erros adquiridos inconscientemente, de movimentos descontínuos e de pequenos pormenores que, se negligenciados, produzirão hábitos motores contraproducentes e difíceis de alterar.
Investir tempo e atenção neste momento do treino é, portanto, uma escolha vencedora.

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